Eu nasci num celeiro da arte, no berço mineiro.
Deixo a poesia musical de lado para relatar um pouco do que li e penso sobre a tragédia ocorrida neste dia 25/01/19 em Brumadinho, Minas Gerais. Apenas um relato, sem pretensão de críticas a muitos profissionais responsáveis envolvidos na obra, pois sei que há aos montes, mas sim um desabafo sobre o inacreditável acontecimento neste início de ano.
Aqui quem fala é uma admiradora das questões ambientais, por vontade e paixão jornalista, formada também em ciências ambientais e preocupada com tanta ambição.
A terra que não tem mar mais uma vez lamenta uma tragédia que para muitos especialistas já era anunciada.
Anunciada, pois é constatado pouco efetivo fiscal para muitas mineradoras. É dizer que se há fiscalização ocorre de maneira tímida.
Foto: Aratu online (Brumadinho-MG)
Certamente, também, é jogar na loteria e ganhar duas vezes boladas milionárias em tão pouco tempo!
Afinal, em pouco mais de três anos uma segunda barragem se rompe praticamente na mesma região, sendo a mesma operação e pertencente à mesma Mineradora.
A julgar pelas vítimas fatais e as que ficaram vivas, porém com seus traumas, prejuízos e a impunidade em Mariana, Minas Gerais, podemos constatar que a história se repete, claro que com as devidas proporções.
Claramente fica evidente que moradores que sobreviveram a esse novo desastre vão amargar anos de luta, perdas, desilusões..... Pois tão grande quanto uma barragem rompida e o mar de lama que transforma a paisagem, é o poder dos que se acham acima de tudo, acima da lei.
Volto a dizer, aqui quem fala é uma cidadã que a exemplo de tantos outros não têm voz para berrar aos montes. Muitas dessas vítimas só são ouvidas num microfone de repercussão nacional quando vão documentar a perda de vidas, de casas, de cenários e de sua história, por conta de uma injustiça dessa.
A jornalista Cristina Serra documentou em seu livro "Tragédia em Mariana" o relato de muitos que amargam até hoje a dor de viver num cenário não mais reconhecido pela destruição.
Dois anos após a tragédia de Mariana tive a oportunidade de visitar áreas próximas ao local e, mesmo não conhecendo o cenário anterior, percebi pelos relatos e até pelo cenário ambiental, que a alma daquele lugar tinha ido embora, dado espaço à lama. Restou para muitos pescadores, comerciantes, pesquisadores, cidadãos a reconstrução num solo infértil e em rios mortos. Além da expectativa de acordos judiciais e suas indenizações.
Claro que basta deixar nas mãos da natureza que ela toma conta novamente dos cenários e faz seu desenho perfeito. Mas o que se tem, por enquanto, é o resultado da falta de fiscalização e principalmente do comprometimento com o meio ambiente, com os cidadãos e com a vida.
Parei por aqui. E que parem também as tragédias desse nível no Brasil.