Luís e eu gostamos de viajar assim e mais ainda, de poder ter esse privilégio diante de uma realidade global tão dura e diferente. Trabalhamos pra isso e não somente vivemos pra trabalhar.
Pois bem, ajustamos o embarque para dia 1 de junho de 2022, mas devido a problemas no embarque, tivemos de comprar novamente passagens para o dia 4 de junho.
Embarcamos pela empresa Copa Airlines,
(Conexão Guarulhos- Panamá/ Panamá-México), chegando à Cidade do México no mesmo dia. Logo na chegada, o desconforto da mala quebrada na viagem e ao mesmo tempo de uma atenção exemplar da empresa para conosco.
Enfim, carro alugado pela Europcar ( vale a dica: a Europcar não aceitou o seguro do cartão de crédito e exigiu o seu próprio seguro. Não à toa a avaliação do local no Google é tão baixa).
Mas calma, há vantagens. Ganhamos duas horas no fuso horário (no México, são duas horas mais cedo que no Brasil); além do Peso (moeda mexicana) estar 4 para cada 1 Real (nossa amada moeda).
No mesmo dia, já no fim de tarde, seguimos rumo ao primeiro de muitos destinos nessa viagem.
Do Estado do México, fomos para o Estado de Hidalgo e lá encontramos um cenário único.
Você já ouviu falar de Tolantongo? Mais um check demos em locais inusitados para conhecer.
O México é muito privilegiado, simultaneamente azarado por seus fenômenos naturais.
Não houve um dia, pelo que ouvimos nas rádios, lemos nos portais de notícias e assistimos nas emissoras de tv em que não foi emitido algum alerta à população.
A certeza do privilégio vem quando somos agraciados por conhecer lugares como as Grutas Tolantongo.
Após viajar mais de três horas pelas amplas rodovias mexicanas e de pagar pedágios caros, chegamos à região já de noite. Por isso, preferimos uma pousada, ao invés do camping. Logo, já fomos surpreendidos pelos mexicanos tradicionais do fio do bigode, mas que confiam desconfiando. Na era da criptomoeda, eles ainda preferem o efectivo (dinheiro em espécie). Em Tolantongo, quase que somente assim se dá o pagamento. Alguns restaurantes aceitam "tarjeta" cartão, mas o ingresso e as barraquinhas pedem pagamento em dinheiro em espécie.
Na manhã seguinte, dia 5/06, domingo de eleição mexicana, deixamos a pousada e seguimos para as grutas. Antes, porém, mais uma barreira para quem já enfrentou muitas. A exemplo de outros países, tais como Belize, Guatemala e Costa Rica, o México também tem suas restrições sanitárias em razão da COVID-19. No voo, no aeroporto, no comércio e nos pontos turísticos, o uso do "cubrebocas", a máscara, é obrigatório. E na região de Tolantongo, uma barreira de sanitização nos lembrou que esse vírus ainda amedronta quem deseja ter liberdade.
Como chegamos no domingo, creio que tenhamos visto boa parte do povo mexicano lá. Lotado, acho que ninguém foi votar. No México o voto é obrigatório, mas há uma polêmica envolvendo as
sanções eleitorais aos eleitores. Ao invés de urnas, eles preferiram piscinas azuis e de aguas termais.
A água de vulcão que desce da montanha desenha um cenário surreal. Muy rico aos olhos humanos. Com o ingresso a 150 pesos + 30 de estacionamento, Tolantongo é assim. E você que gosta de acampar, como Luís e eu, também pode fazê-lo. Essa barraca tem muitos anos de história conosco.
Buenos dias, Buenas tardes, Buenas noches, bom provecho, con permission, desta forma fomos retribuindo a gentileza a nós ofertada nesse país de gente trabalhadora, não importa a idade. Vi muita gente raiz, o que também em muito me lembrou a infância simples junto aos meus irmãos. Dias que um sorriso vinha com a venda de uma de nossas mercadorias (abacate, banana, caldo de cana, creme, pipoca etc).
Enfim, como tivemos 19 dias de viagem, nossos lugares de muitas horas foram o carro e a estrada.
Um dos caminhos foi esse ambiente desértico abaixo.
Foram mais de 80 horas do Luís ao volante, comigo na copilotagem de GPS, na separação do dinheiro de pedágio, na checagem de lanche em trânsito, no bate-papo e nas anotações sobre observações feitas. Afinal, jornalista é jornalista até dormindo.
No dia 6 de junho embarcamos rumo à divisa dos Estados do México e Puebla.
Vimos esse gigante do alto no voo e algo nos moveu a querer chegar mais perto dele pela primeira vez nessa vida que ganhamos de presente.
Foto do vulcão vista do avião/Chegada ao México
Após quase 300 km percorridos, chegamos à Amecameca, a mais de 3 mil de altitude.
No México, chegamos na estação da Primavera e presenciamos o início do Verão. O sol se põe por volta de 20h15 (22h15 horário de Brasília). E foi por aí que chegamos à cidade próxima aos Vulcões Iztacchihuatl (inativo, sendo a terceira maior montanha do país) e Popocatéptl (um dos 40 ativos do México e a segunda maior montanha do país).
Acesse informações do Parque, que fica no município de Zoquiapan.
Pôr do Sol- viagem pelo litoral do Caribe para o Golfo do México
Na chegada ao
@eco.ranchodelvalle, do amável Pablo, fomos também recebidos pelo jovem garçom de um garbo extremo. Mesmo tendo "cerrado" a "cocina" do restaurante, Jair e as cozinheiras nos atenderam. Ali mesmo pernoitamos num quarto e no dia seguinte em nossa barraca no camping.
Foi bom termos sido abraçados pela simplicidade e amorosidade desses profissionais, pois o dia seguinte prometia. Rumo à Rota dos Vulcões (Parque Izta- Popo). Tão difícil quanto pronunciar o nome dessas duas montanhas, foi subir rumo a uma delas: a Ista, ou "Mulher Dormida". O ingresso custa em torno de 20 Reais por pessoa.
Dos 12 quilômetros totais, os primeiros sete são de estrada com leve ascensão que dão acesso aos 5 km principais de grande altimetria. Luís e eu fomos até os 4.850 de altitude, com muita dificuldade, visto que, a partir dos 4.500m a falta de oxigênio fica ainda mais acentuada, exigindo de nossos corpos. Não era possível caminhar mais de 50 metros sem parar para recuperar o fôlego. O topo estava logo ali, mais 1,5 km e chegaríamos, entretanto, o bom senso falou mais alto que a vontade.
Feito este, que registramos em nossos perfis no Strava.
No mesmo dia soubemos que o vizinho da Ista estava se manifestando. O Popo, em maia, significa "montanha fumegante", havia registrado atividade nas últimas 24 horas, o que fez com que as autoridades emitissem alerta 2 amarelo (escala de 1 a 3). Mesmo não sendo especialistas em vulcão, notamos que havia muita fumaça no topo da montanha e que a cidade estava toda cinza. Confira o
link reportagem.
Foto tirada do caminho de volta do vulcão Ista. Ao fundo, a fumaça do Popo.
No dia 8 de junho embarcamos rumo ao Estado de Oaxaca. Nas rádios, além de muitos hits norte-americanos, ouvimos sobre questões ambientais do México e notícias de nosso Brasil. O país da América Central, por exemplo, tem coisas inusitadas e diferentes de nosso país. Baniu sacolas plásticas dos supermercados e raríssimas foram as vezes em que vimos o uso do capacete.
Aqui a família inteira na moto (Estado de Oaxaca)
Aqui, uma caminhonete utilizada para o transporte público (estado de Chiapas)
Em geral, na parte sul do país, a qual percorremos, observamos muitas cidades sem beleza. Há muita sujeira, pobreza e quase sempre sem prédios altos, provavelmente devido à ocorrência de terremotos.
Luís e eu sempre costumamos dizer que a viagem é também o caminho, por sua beleza, por seus bonitos cenários, mas pelas estradas que passamos, raríssimas exceções percebemos isso. O destaque especial foi para a Cidade do México, que é muito exótica e imponente.
De volta aos kms somados, chegamos ao Estado de Oaxaca. Almoçamos num restaurante de beira de estrada, em que, além da pimenta no camarão, conhecemos também o bonito artesanato de pintura manual. Tão extremo quanto sua beleza é o preço.
Chegando à cidade de Oaxaca, ficamos em um hotel no centro histórico, justamente pela comodidade e agilidade e por não encontrarmos um camping. Foi a primeira de quatro cidades em que os prédios coloniais deram um prazer a mais nessa viagem. O templo de São Domingos valeu um clique interno, além das ruas de Oaxaca, que te dão um carimbo no passaporte para um outro tempo de nossa história.
Os mexicanos que nos perdoem, mas que bom que os espanhóis passaram por aqui. Que bom gosto!
Na culinária, o México acerta em cheio e nos apresenta uma explosão de sabores. Aumenta nosso senso crítico gastronômico, sem exigir que paguemos caro por isso. Em média, uma refeição sai 100 pesos por pessoa.
Ceviche, camarones, crespa, chilaqules, tacos e até feijão no café da manhã fazem quase a gente pedir cidadania mexicana. E olha que a nossa comida brasileira é um espetáculo. (
@ocote_cocina).
Em 9 de junho partimos da cidade para Playa La Bamba. A primeira praia de nossas vidas no oceano pacífico. No caminho, uma região serrana, percebemos o grande cultivo de Mezcal, uma bebida típica do país. Já na chegada à La Bamba, mulheres comerciantes acenavam pra todos os carros chamando-os para consumirem seus produtos. Quase pulavam na frente.
Ao encontrarmos nosso destino bucólico, próximo à Salinas, conhecemos o dono do restaurante BLUE ROCK. Senhor Osvaldo Escobar Santos (que jurou não ser parente de Pablo Escobar) nos contou diversas histórias. Da política, passando por investimentos futuros, à proteção do santuário de" tortugas" (tartarugas). Por lá almoçamos e logo em seguida fomos à praia frequentada por muitos surfistas, pelas fortes ondas.
Ciclista em terra de surfista ou dorme ou corre. Eu corri e Luis dormiu. Fui até às dunas e, no caminho, um cenário de flamingos pude contemplar.
Mais tarde, seu Osvaldo nos disse que a região tem sido observada pelo governo mexicano e que, inclusive, o presidente faria uma visita, em breve, para investimentos em um canal portuário (via marítima artificial), a exemplo do que já se tem no Panamá e em Suez. Seu Osvaldo não é pescador, mas contou uma história do tipo. Disse que era tranquilo acampar ali, mas de madrugada fomos acordados por uma tempestade fortíssima, que nos obrigou a abrigarmos no carro, até a revolta passar. Uma semana antes, o furacão Ágatha havia passado pela costa, atingindo de Oaxaca a Yucatán.
Passados o susto e o desafio de ser mexicano por uns dias e viver num país de extremos, viajamos novamente.
Desta Vez, subimos serra para San Cristobal de Las Casas, no Estado de Chiapas. Disse há pouco que o México não tem paisagem, mas retiro o que disse neste caso. Passamos pela estrada de La Ventosa. Chama-se Istmo Tehuantepec, onde confluem cordilheiras formando o efeito de túnel. É a terceira menor faixa de terra da América Latina (liga a América do Norte à América do Sul), com uma distância de 200 km do Pacífico ao Atlântico e que, por isso, tem de perder de vista centenas e centenas de torres eólicas.
Ao longo da estrada, percebemos baixa oscilação no preço do litro do combustível (20,30 Pesos mais barato, 22 Pesos o mais caro).
A chegada a San Cristobal de Las Casas foi marcada por um grande desnível na serra. 40 km de subida com 2 mil de elevação. E também por lentidão, devido à obra na estrada.
Apesar de ter mais de 100 mil habitantes, ela parece ser pequena.
No Centro Colonial foi onde encontramos nossa próxima pousada Cabanas El Naranjo, da simpática Tânia. Lá também passei frio no calor do México. A passagem pela cidade, contemplou a visita ao Centro e ao mercado de "artesanias" e alimentos, onde, acreditem, Luis reviu um velho amigo brasileiro: o prato Içá. No México, a formiga Tanajura recebe o nome de Pacaia e, a exemplo do Brasil, o preço também é elevado: 100 pesos o litro.
Foi lá também que conhecemos e adquirimos a pimenta que tanto experimentamos: Chili de Arbol.
Não tô chique como a Dona Lucy, funcionária da Cabana, mas amei nossa parceria
Crianças dançando na praça de San Cristobal de Las Casas
Tomando o famoso suco de Tamarindo em San Cristobal de Las Casas
O dia seguinte na cidade, descemos a Serra para ver se perto o imponente
Canyon El Sumideiro. Com paredes de 1km de altura e trechos com 240 metros de profundidade, o passeio pelo parque encanta e assusta. 57 km de barco (strava), sendo guiados pelo Guia Antônio, que, a exemplo de todo comerciante/ empreendedor mexicano, pede
"propina" (GORJETA). Acredite, tem até botão na máquina de cartão com o valor de "gorjeta" a ser doado pelo cliente. Crocodilos, pelicanos e macacos já fazem um bem bolado com os guias e aparecem bem na hora de nosso tour, dando um tempero apimentado a mais nessa visita. O valor do ingresso? 270 Pesos por pessoa, sendo pagos em cartão e o aluguel do colete SALVA-VIDAS em dinheiro.
Na foto, também há no galho dois filhotes de crocodilo
No mesmo dia, estrada novamente. Do Embarcadeiro para Palenque (também no Estado de Chiapas). Antes porém, vale destacar que aqui há diversas regiões de comunidades indígenas no caminho. Passamos por
Misol- Ha e
Águas Azuis. E como disse um amigo que fizemos em San Cristobal (Sérgio Velazques), se paga para o governo e para o índio para adentrar os locais. Foi também nessas estradas que avistamos o que eu havia visto, até então, apenas em séries de tv mexicanas: a venda de gasolina.
Aí também conhecemos uma indiazinha que marcou nossa viagem. Paramos o carro na barreira que o índio coloca na estrada, e ela já veio vender sua banana. Ela disse que era 25 Pesos; Luis fez a contraproposta de 20 Pesos. Ela, no alto de seus 5 anos no máximo e sem nenhum dente saudável na boca, falou: "Esta bien", contente da vida.
Luís achou que tinha saído por cima com o desconto (rsrsrs).
Em vários comércios se vende gasolina no galão.
Chegamos a Palenque, o trajeto não foi longo, mas há muitos obstáculos ruins ("tope" em espanhol) na estrada, o que não permite fluir.
Ficamos no camping
La Reina Roja (Rainha Vermelha). O proprietário Félix recebeu com muito apreço a nossa sugestão de que, a exemplo de outras inúmeras bandeiras de diferentes nações que vimos lá, como dos Estados Unidos, Canadá, Argentina, também tivesse uma nossa lá. O camping/restaurante é de uma estrutura perfeita e muito próximo à região arqueológica. Também oferece área de piscina, quadra de vôlei, cabanas, restaurante e wi-fi no talo (uma raridade em terras mexicanas, pelas quais passamos).
A visita às ruínas maias de Palenque ocorreu um dia após nossa chegada. No local havia muito assédio de guias, que insistiam em cobrar da gente mais uma vez para acessar trilhas internas, que prometem apresentar mais ruínas escondidas em meio à mata, sendo que já havíamos pagado o ingresso oficial. Nessa hora, encontramos um casal de alemães (Jana e Dominique) que topou fazer a trilha conosco e fugir da cara raivosa dos guias. Por fim, fizemos uma caminhada em meio à mata e encontramos algumas construções, além de uma família de macacos que nos intimidou com seus uivos do alto da árvore. Descobrimos, na ocasião, que a indiazinha da banana cobrou 10 Pesos do Dominique, sendo que Luís pagou 20.
Palenque oferece uma ótima estrutura. Dizem que todo esse mistério mórbido que ronda o local tem seus motivos. Das mais de 1.500 construções maias, estima-se que apenas 1,5% tenham sido escavadas até agora. Tudo muito antigo com pesquisas muito recentes.