Mas trouxe aqui o texto para vocês avaliarem.
Cientistas mobilizam-se pelo tombamento da Serra da Mantiqueira
Além de abrigar um grande número
de espécies animais e vegetais endêmicas, muitas delas ameaçadas de extinção,
os remanescentes florestais da Serra da Mantiqueira garantem grande parte da
água que abastece as populações e as indústrias das cidades do Vale do Paraíba
(no leste do estado de São Paulo e no sul do estado do Rio de Janeiro) e da
capital fluminense.
Na avaliação de integrantes do
Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso
Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (www.fapesp.br/biota/) ),
interromper o processo de degradação pelo qual a região passa é, portanto,
fundamental para evitar não apenas uma irreparável perda de biodiversidade como
também o agravamento, no futuro, de crises hídricas como a que atualmente afeta
a região Sudeste.
“Não seria possível, no momento,
criar uma área de grande restrição ambiental, como um parque estadual, pois
isso requereria desapropriações de terras e teria um grande custo para o
Estado. Mas defendemos o tombamento das regiões acima de 800 metros de
altitude, o que regulamentaria as atividades a serem realizadas sem impedir o
desenvolvimento”, afirmou Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Programa BIOTA-FAPESP.
Ao lado do ambientalista Fábio
Feldmann, Joly foi um dos organizadores do movimento Mantiqueira Viva
(mantiqueiraviva.com.br), que promove desde março deste ano um abaixo-assinado
pedindo o tombamento da Serra da Mantiqueira como patrimônio ambiental com o intuito
de aumentar a proteção de um corredor de 45 mil hectares de remanescentes
florestais existentes entre o Parque Nacional do Itatiaia e o Parque Estadual
de Campos do Jordão. A petição já conta com mais de 5 mil assinaturas.
Segundo Joly, a proposta de
tombamento foi apresentada inicialmente em 2011 e, desde então, vem sendo
analisada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico (Condephaat) da Secretaria Estadual de Cultura. Um
primeiro parecer da equipe técnica da Unidade de Proteção do Patrimônio
Histórico (UPPH) foi negativo à abertura do processo. Os defensores da proposta
decidiram se mobilizar para evitar seu arquivamento definitivo.
Na prática, o tombamento não
aumenta o nível de proteção da mata – apenas referenda a legislação já
existente e representa uma nova barreira para eventuais mudanças, proibindo que
o local seja destruído ou descaracterizado. Desde 1985, a Mantiqueira é
considerada uma Área de Proteção Ambiental (APA) federal (categoria de unidade
de conservação menos restritiva), mas até hoje não tem plano de manejo. A
região inserida na proposta abrange áreas de florestas contínuas nas encostas
mais elevadas, as florestas com araucária da região do planalto e os campos de
altitude da Serra da Mantiqueira Paulista que ficam na divisa de Minas Gerais
com os municípios de Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Piquete, Cruzeiro,
Lavrinhas e Queluz.
Toda essa área está inserida no
mapa “Áreas Prioritárias para Incremento da Conectividade”, elaborado pelo
BIOTA-FAPESP, e foi considerada pelos cientistas como Área da Mais Alta
Relevância Ecológica, prioritária para a conservação da biodiversidade, para a
criação de áreas protegidas e para o incremento da conectividade (leia mais em:
http://www.biota.org.br/?p=4906 ) .
Além disso, em um estudo
internacional publicado em novembro de 2013 na revista Science, a Serra da
Mantiqueira foi apontada como um dos 78 locais mundiais “insubstituíveis” para
a preservação da biodiversidade global de mamíferos, aves e anfíbios (outros
três pontos brasileiros apontados no artigo foram: a Serra do Mar, também na
Mata Atlântica; e o Vale de Javari e o Alto Rio Negro, na Amazônia).
Ameaças
De acordo com Joly, uma das
principais ameaças aos remanescentes de Mata Atlântica na região da Mantiqueira
é a expansão da mineração de bauxita para a produção de alumínio e de outros
minerais, principalmente perto da divisa do Rio de Janeiro com os municípios de
Lavrinhas e Queluz.
O pesquisador também menciona a
extração ilegal de madeira, palmito, bromélias e orquídeas; a caça de espécies
ameaçadas de extinção, como o macuco (Tinamus solitarius), a araponga (Procnias
nudicollis), o sabiá-cica (Triclaria malachitacea), o muriqui (Brachyteles
arachnoides) e o bugio (Alouatta guariba); a especulação imobiliária; e o
descarte inadequado de lixo urbano e de resíduos da mineração.
“Diversas espécies associadas às
matas de araucárias e aos campos de altitude só ocorrem nessas áreas mais altas
da Mantiqueira, sendo estas os únicos refúgios desta fauna em nosso Estado.
Muitas dessas populações são os remanescentes de grupos de animais do sul do
Brasil e dos Andes, um resquício isolado de um passado remoto quando as
temperaturas eram mais baixas em toda a América do Sul”, afirmou André Victor
Lucci Freitas, professor da Unicamp e membro da coordenação do Programa
BIOTA-FAPESP.
Ainda segundo Freitas, 20 das 55
espécies de borboletas do Brasil ameaçadas de extinção encontram refúgio na
Serra da Mantiqueira. Muitas dessas espécies possuem populações pequenas e
frágeis, sendo facilmente eliminadas quando ocorre perturbação antrópica, como
queimadas constantes, plantio de pinheiros e eucaliptos e poluição dos corpos
d´água.
“Trabalhos recentes na Serra da
Mantiqueira têm revelado diversas espécies desconhecidas para a ciência, muitas
delas já ameaçadas antes mesmo de serem descritas. Em anos recentes, temos
observado a extinção local das populações de diversas dessas espécies na região
da Mantiqueira. Se não houver um plano para conservação de toda a região, com
um bom zoneamento, uma porção importante da fauna paulista desaparecerá para
sempre do nosso estado”, disse Freitas.
Na avaliação de Célio Fernando
Baptista Haddad, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, os
ambientes de encostas e topos de serras e montanhas vêm funcionando, no curso
da história evolutiva, como verdadeiros berçários de espécies. Essa condição,
segundo ele, faz com que os ambientes altitudinais sejam muito frágeis e
particularmente suscetíveis às degradações antrópicas – com o agravante de que
a recuperação dessas áreas é mais difícil, cara e complexa.
“Os pontos culminantes da Mata
Atlântica são encontrados na Serra da Mantiqueira, onde podemos observar uma
fauna particular que resulta de um grau de endemismos mais elevado que o das
áreas vizinhas, em altitudes menores. Assim, a conservação de remanescentes de
Mata Atlântica é urgente e, dentre estas áreas, aquelas localizadas nas
altitudes mais elevadas, como na Serra da Mantiqueira, devem ser priorizadas”,
afirmou Haddad.
O especialista em recursos
hídricos José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia, lembra
que o rico sistema aquático da Serra da Mantiqueira é um dos poucos ainda bem
preservados no Estado de São Paulo e contribui para o abastecimento das bacias
hidrográficas do Rio Paraíba do Sul, Rio Tietê e Rio Grande.
“A degradação desses mananciais
poderia comprometer tanto a quantidade como a qualidade da água para os
municípios da região. Sabemos hoje que as nascentes e a floresta têm papel
fundamental na qualidade da água”, afirmou Tundisi.
Fonte: www.agencia.fapesp.br
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