Quem dera eu conseguisse fazer
uma poesia, para descrever tão bem aquelas que foram consideradas nossas
melhores férias... (Não é mesmo meu companheiro, amigo e namorado, Luís
Flávio?).
Para selar bem o ano de 2016 e
começar melhor ainda 2017, Luís e eu escolhemos a Bahia e o Espírito Santo como
destinos de férias.
A viagem deixou para trás o luxo
ao qual contamos todos os dias, nem percebemos: comida, internet, banho, tv e
família por perto.
Em troca, conquistamos a alegria
do livre arbítrio, da liberdade, da escolha e dos resultados.
De poder decidir o destino ao
qual realmente se deseja ir e também de poder deixá-lo assim que achar viável.
Nossa viagem começou no dia 27 de
dezembro de 2016, exatamente às 5h30 (madrugada).
Conosco foram também os produtos
(alimento, roupa e máquina fotográfica), ou seja, o que cabia em nosso Fiesta.
Ah, além de tudo que cabia dentro, foi também do lado de fora, nossas
companheiras inseparáveis: as bikes.
Com tanta vontade de descobrir o
novo, gastamos o tempo e a estrada que tínhamos para conquistar até a Chapada
Diamantina, na Bahia, com muita conversa boa, música e descobertas.
As estradas que levam até a Bahia
são repletas de personagens, paisagens, engraçadinhos no trânsito e surpresas
boas.
Uma delas foi o encontro com dois
ciclistas no dia 28 de dezembro de 2016 entre Minas e Bahia. A surpresa
aconteceu depois de nossa primeira estada em Montes Claros, ao final do primeiro dia
de viagem.
João Batista e Valmir haviam saído, havia 15
dias, de Santana de Parnaíba (SP) em direção à Bahia.
Quinze dias de viagem e um
sorriso enorme no rosto.
....
Depois do encontro, do almoço e
do clique das fotos, bora pegar estrada rumo à Chapada.
O bendito GPS foi um companheiro
inseparável, mas também nos pregou algumas peças.
Nos jogou em estradas de terra,
daquelas infinitas. Mas o que parecia ser ruim, nos apresentou um mundo, até
então, desconhecido. Personagens no fim do mundo, aqueles que fazem questão de
lhe oferecer, além de informação, um abraço amigo.
Muitas estradas estaduais da
Bahia são assim, de terra batida, obstáculos, carro atolado na areia, e até com
ponte quebrada, onde a água insiste em não passar.
Para a seca, uma cisterna. Para a
estiagem, centenas de plantas sobrevivendo e colorindo o caminho. Que
contradição! O que pode explicar é o solo tão rico da Bahia. A Chapada tem mais
de 500 milhões de anos e muitas formações.
As palmas, por exemplo, servem de
alimento (diga-se de passagem: uma delícia).
No primeiro dia de viagem (27/12)
foram 12 horas de viagem, já no segundo dia (28/12) ficamos 14 horas na estrada.
Vale muito! A Chapada gigante
conta com 38.000 km², está localizada no Centro da Bahia. Quase podemos dizer que
embarcamos rumo ao coração do Brasil.
Igatu
Enfim, chegamos quase de
madrugada em Igatu, nosso primeiro destino na Chapada.
Sapos!!! Na porta da barraca que
montamos.....
No dia seguinte, fomos para um
pedal pelas ruínas de pedra que restaram dos tempos áureos do garimpo (século
19).
Logo de cara, conhecemos um Museu
a céu aberto intitulado “Galeria Arte e Memória”. Conta apenas parte da
história dessa região, povoada no passado por criadores de gado, produtores de
café e comunidades quilombolas.
Muitos foram até ela em busca de
ouro e diamante.
Explorou-se muito! Ouvimos
relatos de que até hoje algumas atividades ainda persistem, e de que apenas 20%
da Chapada teria sido explorado.
Essa gigante, em seu auge,
possibilitou até negociações até com o mercado europeu. Com o fim da
exploração, em Igatu, por exemplo, o mundo parou. Parou e renasceu. Esses municípios
descobriram a vocação para o turismo.
E que vocação maravilhosa!!!!
Luís e eu fomos garimpar...
Igatu tem 6 cachoeiras, mas nesse
primeiro dia na cidade (29/12) sentimos apenas o calor da Bahia. Resolvemos
pegar as bikes e botar no chão! O pedal contou com uma descida forte e um calor
mais intenso ainda. Parada para lanche embaixo de uma das milhares de enormes
pedras.
Após o pedal, um ótimo
restaurante para desfrutar do peixe, da farinha, do suco de mangaba...... e do
ótimo atendimento de um guerreirinho baiano, o garçom, que também é guia,
vendedor e artesão (Dacimar).
No segundo dia em Igatu
contratamos um guia, ou melhor, compramos um.... por R$49,90. Afinal, isso, faz
parte do passeio mais livre.
E o guia nos apresentou a Cachoeira
dos Pombos e o Córrego do Meio.
A seca tornou a paisagem bastante
diferente da que o guia impresso havia nos apresentado.
Nem tiramos foto!
No caminho, entretanto,
conhecemos o cemitério onde foram enterrados corpos de vítimas da varíola.
Igatu, descrevemos como sendo o
berço dos escaladores, o local com mais pontos de escalada para quem quer
conhecer rochas mais de perto.
Lençóis
Resolvemos partir para Lençóis,
até temerosos, por conta de ser a cidade da Chapada mais movimentada, ficamos
com medo do excesso de turistas.
Bobagem, ao chegarmos já fomos
recomendados a um camping maravilhoso, Lumiar. E foi lá que conhecemos o Brasil
de perto. Tantas famílias, pessoas de regiões distintas, troca de informações
riquíssimas, uma faculdade de conhecimento em poucos dias.
As ruas de Lençóis em muito se
parecem com São Luiz do Paraitinga, a diferença é o sotaque arrastado e a calma
dos comerciantes e moradores.
Diferencio comerciantes e
moradores, pois muitos empreendedores são de fora da cidade, mas alguns de Salvador.
Lençóis se estenderam para que
passássemos ... foram cinco dias maravilhosos nessa cidade, carregada de gente
feliz, cachoeiras lindas (Roncador e Poço do Diabo), locais para pedal
(Roncador), vista incrível do horizonte, que parece infinito (Morro do Pai
Inácio), artesanato (com “z”, pois a Bahia pode..). Foi lá que conhecemos uma
baiana linda, de cabelos brancos, habilidade de sobra com as mãos e samba no
pé, é Dona Edith..... linda mulher na fala e no coração.
Lençóis também tem o melhor suco
de abacaxi, hortelã e maracujá.. .(fomos apresentados à essa mistura
maravilhosa pela primeira vez)
Ah, a culinária também incluiu
crepe de palmito de jaca e cuscuz no café da manhã.....
E já que falamos de escalada,
Lençóis recebe muitos escaladores.
Luís jura que não queria escalar,
mas levou a mochila com todos os itens no carro.
Não deu outra, um dia para
escalada e conhecer novos escaladores (Kend, Pedroca e Diego Fávero "Pará", hoje residentes em Lençóis) e (Júlia e Luís Fernando de Piracicaba).
A virada do ano foi mara, sensa,
tudo. ......
Com direito a conhecer todas as
modas sertanejas do momento, clima de família, clima animado, reflexo do que
Lençóis vive ao longo do ano.
Foi lá também que conhecemos um
figura e tanto, o tapioqueiro que também aproveita o ponto comercial e o alto
movimento para animar clientes com o som que instalou na barraca.....
Palmeiras
O passeio à Chapada também
incluiu flutuação na Pratinha (Palmeiras), foto aquática (Pratinha) visita à
Gruta Azul, Pedal na trilha que leva ao Ribeirão do Meio, e um baiano porreta.
Pra se ter uma ideia, o
comerciante da beira da estrada nem se levantava da esteira para nos atender
(rsrsrs).
Indagado sobre sua preguiça, ele
disse assim: - Para que se levantar, dá trabalho. Eu relaxo tanto, que chega à
noite tô até cansado. Isso só acontece na Bahia, sensacional!!!
Vale do Capão
Por falar em pedal, foi no Vale
do Capão que comprei muitos terrenos (queda de bike) no caminho para a Cachoeira
Águas Claras. Nessa cidade ficamos dois dias.
A cada pedalada um tombo animado.
A cada pedalada o Morrão gigante
se tornava companheiro mais chegado.
No Vale do Capão também
degustamos a melhor comida da viagem, um risoto com shitake, creme de espinafre
e outros tantos ingredientes, além de uma massa defumada com queijo.
No Capão, torna-se quase que obrigatória a ida
até à Cachoeira da Fumaça (400 metros), mas a falta de chuva fez sumir a queda
dessa gigante, por isso decidimos não ir e antecipar nossa viagem de volta.
Nova Redenção
O Guia da Chapada nos mostrou
Poço Azul, como estava no caminho de nossa viagem de volta, passando pelas
praias da Bahia e Espírito Santo, decidimos como destino o Poço Azul, em nova
Redenção.
Foi nele que encontraram fósseis
de quatro preguiças-gigantes e uma ossada praticamente completa. O animal tinha
cinco toneladas e cerca de 10 mil anos.
O mergulho no Poço Azul é uma
viagem pela grandeza do universo.
Ao flutuar naquelas águas, que só
se encontra depois de percorrer muitos quilômetros por uma estrada desértica,
com muito sol, sem vegetação e poeira de sobra, você percebe que pode ir mais,
muito além do que fazemos em nosso cotidiano.
Podemos flutuar, enxergar lá no
fundo (20 metros) e perceber que há mais a ser descoberto.
A despedida da Chapada foi num
ritmo triste, não queríamos ir embora. Será, com toda certeza, destino de
outras férias.
Caraíva
A viagem continuou por território
baiano, desta vez o litoral sul da Bahia. Foram mais dez horas de viagem até
esse paraíso indígena. Ao chegarmos na vila ou comunidade, fomos surpreendidos
com a notícia de que carro não entrava. Até parece que fomos imprudentes em não
nos informar antes, mas é que a internet não funcionava. Boa parte da viagem
nos desligamos muito.
Ao chegar à comunidade,
embarcamos num barco para travessia do Rio Caraíva.
Em Caraíva, ficamos no
Ecocamping- de um dos integrantes de uma aldeia indígena pataxó.
A comunidade é repleta de bares,
comércio, opções de passeio. Mas Luís e eu com o espírito livre, optamos por
fugir de qualquer roteiro. No primeiro dia, jantamos num restaurante bem
bacana, chamado Mangaba. No segundo dia, ficamos na praia, passeamos de caiaque
pelo Rio Caraíva e Luís se aventurou na correnteza, ora causada pela invasão do
mar no rio, ora pela entrada do rio no mar.
No dia seguinte topamos correr e
caminhar, saindo da praia em que estávamos, passando pela praia do Satu e indo
até a Praia do Espelho. 20 kms de exercício físico, passando por praias
desertas e lagoas. Uma das lagoas foi a piscina olímpica, o palco para
exercitar o nado que, confesso, não tenho habilidade alguma.
Muitas coisas nos chamaram atenção
em Caraíva, inclusive o pastel de arraia.
Mas, sem dúvidas, a mais marcante
foi uma indiazinha chamada Ayla. Com apenas 4 anos ela nos encantou com seu
olhar puro de um bichinho do mato, cheio de perguntas mirabolantes, carregados
da cultura do homem pataxó. Que pureza!
Sair de Caraíva foi difícil, mas
os nossos planos de volta tinham de continuar. E viemos em direção ao Espírito
Santo. Depois de 12 horas chegamos em Marataízes. O preço abaixo do mercado do
chalé que ficamos até nos assustou. Apenas R$ 60 reais a diária.
Decidimos não ficar muito no
Espírito Santo por alguns motivos que aqui não cabem ser ditos. Decidimos
antecipar nosso retorno, a saudade de descobrir novas estradas era grande.
A princípio, a viagem de volta
teria uma parada em Ibitipoca, MG. Mas a chuva não nos encorajou a ficar no
Parque. Então, depois de quase 20 dias, chegamos de volta à nossa casa.
A saudade dos cachorros era
tanta, que os pulos, lambidas e olhares de nossos bichinhos pareciam ainda
maiores e mais intensos.
Descobri nessa viagem um
companheiro e tanto. Além de motorista, escalador, um amigão, que deixou a
tensão do dia-a-dia de lado e encarnou um homem bem humorado.
Obrigada, Luís Flávio. Obrigada GPS. Obrigada
Brasil pela biodiversidade, diversidade, cultura, estradas.... enfim, pelo
espírito enorme dessa nação.
Resultado:
Andamos 4.500 km, voltamos mais
maduros, com mais respeito ao próximo, sabendo que o Brasil é maior do que se
imagina, de que as diferenças fazem parte da grandeza. Voltamos certos de que o Fiesta se mostrou um gigante, coitadinho!!
Recomendações
Campings Lumiar (Lençóis), Lakshimi
(Capão) Eco Camping (Caraíva);
Na Chapada observe muito, há cada cenário incrível ao longo da viagem, estradas maravilhosas dentro do parque da
Chapada.
Cuidado apenas com alguns
acessos, como de Igatu e Capão. Muita pedra exige cautela com carro.
Comprar o Guia da Chapada, muito
parceiro de viagem.
Caraíva não permite a entrada de carro.
Apenas por Monte Paschoal você consegue deixar o carro mais próximo de
campings.
É um lugar lindo, bem
estruturado, mas a comida é cara. Por
isso, ficar num camping te proporciona a liberdade de comprar a sua comida e
fazer na cozinha oferecida pelo camping.
Espírito Santo é um lugar muito
acolhedor, entretanto a nossa impressão foi de abandono em muitos locais. As pessoas são muito receptivas. Lindas!!!!
Uma pena ter tido essa impressão,
pelo menos em Marataízes.
Viajar de carro, descobrir
caminhos, proporciona um crescimento incrível.
Recomendamos!!!!! Todos podemos!!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário